Sol intenso, protestos esvaziados e rezas de militantes marcaram na tarde de hoje a parte pública da posse da presidente Dilma Rousseff.
Pela manhã, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência
da República mandou a polícia ficar longe da Praça dos Três Poderes,
“área nobre” da festa popular.
Diante do aumento de pessoas no local no começo da
tarde, o órgão militar da Presidência recuou da exclusividade e pediu o
reforço de policiais, que não perderam a chance de fazer ironias por
meio de seus rádios internos.
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Foto: Roberto Stuckert Filho/PR
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O
comando geral da Polícia Militar avaliou que a presidente conseguiu
levar 40 mil pessoas para a Esplanada dos Ministérios no “momento de
pico”, estimativa superior às das duas últimas posses presidenciais. A
contagem surpreendeu, diante dos vazios nos gramados e pistas e de
cálculos da própria polícia em eventos recentes. No protesto de 20 de
junho de 2013, o maior ocorrido em Brasília durante a onda de
manifestações daquele ano, por exemplo, a polícia também chegou a 40 mil
presentes na área.
A aposentada Zely Dias, de Salvador, aguardava a
passagem do Rolls Royce da presidente na sombra de uma árvore a metros
do alambrado. “Cheguei mais cedo para ficar perto da grade, mas vi que
não era necessário”, disse, cinco minutos antes de Dilma e a filha,
Paula, passarem pelo local. Um grupo de manifestantes, o “Revoltados
Online” soltou balões negros no gramado e provocou um mal-estar com
petistas, que os chamaram de “coxinhas”.
A polícia não registrou ocorrências de furtos ou
brigas. Sem a chuva e a friagem das festas de 2007 e 2011, o evento de
hoje contou, além do calor, com o esforço dos diretórios do PT e do PMDB
de Goiás e do Distrito Federal no transporte de militantes e
simpatizantes. A militância tradicional petista foi substituída, nas
margens da pista de acesso do Planalto ao Congresso, por cabos
eleitorais munidos de bandeiras do PMDB arregimentados em Riacho Fundo,
cidade da periferia de Brasília. Só 14 diretórios estaduais do PT
enviaram ônibus com caravanas para a posse.
Em quatro pontos da região central da cidade, 109
ônibus com simpatizantes estavam estacionados, em uma contagem do jornal
O Estado de S. Paulo feita meia hora antes da posse. Destes, a maioria
era de Goiás (40 ônibus), cidades satélites de Brasília (21), São Paulo
(21), Minas Gerais (8), Rio de Janeiro (4), Espírito Santo (4), Bahia
(2), Paraná (2) e Mato Grosso (2). Mato Grosso do Sul, Rio Grande do
Sul, Piauí, Tocantins e Santa Catarina também alugaram ônibus. Em uma
estimativa preliminar da polícia, eram 43 ônibus.
Entre os simpatizantes vindos em ônibus de linhas
regulares estavam os primos índios Caio Kamaiurá, 27 anos, e Leo
Kamaiurá, 23, que viajaram três dias com as mulheres, Ceni e Kewe, e
dois bebês, do Xingu a Brasília. A família não percebeu a proximidade do
Rolls Royce e acabou perdendo um lugar privilegiado próximo da cerca
para ver a presidente. “Foi rápido demais”, se queixou Leo.
Até a passagem da presidente, cinco pessoas tinham
desmaiado e contado com a ajuda da Defesa Civil. A festa de hoje foi
mais silenciosa que nas versões anteriores. Entre as exceções estava um
grupo de 50 ritmistas comandados pelos mestres de bateria Anderson e
Ronaldo, das escolas de samba Aruc e Acadêmicos da Asa Norte, que
animaram o público em um trecho do gramado do Congresso. O tom de
introspecção ficou por conta de petistas que evitaram gritos e
preferiram, em frente ao Ministério da Justiça, outro local de passagem
da presidente, fazer orações em prol de Dilma.
Um “profeta”, numa cena pouco religiosa, com um
cartaz “anunciando” a chegada do tucano Aécio Neves em 2018, foi
retirado do gramado pela polícia para evitar confusão. Militantes
petistas aplaudiram os policiais pela “prisão” do homem vestido com
roupão e peruca.
NúmerosO
efetivo da polícia na posse de hoje e no protesto de 2013 também foi o
mesmo, cerca de três mil homens. A primeira posse do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, em 2003, com estimativas que variavam de 70 mil a
150 mil pessoas, continua sendo a maior da historia recente, superior
aos públicos que teriam participado da segunda posse de Lula, em 2007,
10 mil, e da primeira posse de Dilma, em 2011, 30 mil.
O tenente-coronel Lúcio César Costa Marques
explicou que a estimativa de hoje foi uma média de estimativas feitas
por diversos oficiais da polícia. Alguns fizeram estimativas mais
modestas, de 30 mil pessoas. No cálculo, levou-se em conta a presença de
4 pessoas por metro quadrado. Os oficiais fizeram projeções a olho nu
de uma plataforma e usaram dados de agentes que ficaram em pontos de
acesso à Esplanada.
O coronel Joaquim Cinézio Marques, comandante-geral
da operação, ressaltou que logo que Dilma entrou nas dependências do
Congresso para tomar posse, um quarto do público começou a deixar o
gramado e ir na direção da rodoviária central. Uma pequena parte se
manteve sob o sol forte na Praça dos Três Poderes, onde mais tarde ouviu
a presidente discursar no parlatório do Planalto. Nesse momento, eram
cerca de 15 mil na praça.