José Cruz/ABr
A Polícia Federal apreendeu na residência oficial de José Roberto Arruda documentos que estabelecem uma ligação monetária do governador do DF com o DEM.
São dois recibos. Os papéis trazem a assinatura do tesoureiro do diretório nacional DEM, ex-deputado Saulo Queiroz.
Registram duas “doações” recebidas pelo ex-partido de Arruda de empresas fornecedoras do governo do DF.
Somam R$ 425 mil. Desse total, R$ 275 mil vieram da caixa registradora da Construtora Artec. Outros R$ 150 mil foram providos pela Antares Engenharia.
As duas folhas foram recolhidas pela PF numa batida feira na residência oficial do governador. Estavam dentro de um armário.
O móvel foi varejado num anexo da casa, em sala que era usada por Domingos Lamoglia, ex-chefe de gabinete de Arruda.
Lamoglia deixou o cargo depois que seu nome emergiu das investigações do panetonegate.
A PF e o Ministério Público investigam o ex-secretário, suspeito de ter arrecadado propinas que abasteceram a caixa de panetone$ de Arruda.
Deve-se a revelação da existência dos recibos a uma trinca de repórteres: Filipe Coutinho, Fernanda Oldila e Hudson Corrêa.
Em notícia levada às páginas da Folha, os repórteres informam:
1. Os recibos com os valores repassados ao DEM foram emitidos em maio de 2009.
2. Saulo Queiroz, o tesoureiro da ex-legenda de Arruda, diz que os R$ 425 mil entraram no partido pela porta da frente. Coisa legal, registrada na contabilidade.
3. A PF busca resposta para uma pergunta intrigante: por que diabos os recibos do DEM estavam no armário do anexo da casa de Arruda?
4. Em casos de doações legais, os recibos são repassados às empresas. Daí a estranheza. Por que estavam guardados no armário da casa de Arruda?
5. O próprio tesoureiro Saulo Queiroz disse estar supreso. Segundo ele, os recibos foram entregues às empresas, não ao ex-chefe de gabinete de Arruda.
6. Procurada, a firma Antares deu informação que contradiz o tesoureiro Saulo. Disse que não pediu nem lhe foi repassado o recibo dos R$ 150 mil que doou.
7. A outra provedora, Artec, associada a um desembolso de R$ 275 mil, não se manifestou.
8. As duas empresas mantem contratos com o GDF. A Artec atua em duas frentes: coleta de lixo e obras civis. Sob Arruda, seus ganhos foram tonificados em 41%.
9. Desde 2007, quando Arruda assumiu o governo, a Artec recebeu R$ 95 milhões das arcas do DF.
10. Desse total, algo como R$ 27 milhões foram pagos depois que a empresa fez a doação ao DEM.
11. Chama-se César Lacerda o dono da Artec. É filiado ao PSDB. Disputou, em 2006, uma cadeira de deputado na Câmara Leislativa do DF. Não foi eleito.
12. Quanto à Antares, cinco meses depois do repasse de verbas ao DEM, recebeu uma licença prévia do GDF para executar obras.
13. A licença foi emitida pelo Instituto Brasília Ambiental, órgão do GDF.
14. O Ministério Público apontou irregularidades na liberação das obras confiadas à Antares. E o Tribunal de Justiça do DF cassou a licença em janeiro passado.
15. No mês anterior, dezembro de 2008, a deflagração da Operação Caixa de Pandora, da PF, levara ao noticiário os malfeitos do panetonegate.
16. Ameaçado de expulsão pelo DEM, Arruda viu-se compelido a pedir a desfiliação da legenda. Sem partido, desistiu de concorrer à reeleição.
17. Nas pegadas do escândalo, Arruda disseminou pelos subterrâneos de Brasília a ameaça de arrastar expoentes do DEM para a lama que se formou à sua volta.
18. O governador dizia, em privado, que ajudara a financiar campanhas eleitorais do DEM.
19. Sem fornecer detalhes, o DEM admite ter recebido doações de empresas fornecedoras do GDF. Mas sustenta que o dinheiro transitou por cima da mesa.
20. É nesse contexto que os dois recibos apreendidos pela PF vêm à luz. O tesoureiro Saulo Queiroz decerto vai providenciar a abertura dos livros do DEM.
21. Neste sábado (13), munida de mandados expedidos pelo STJ, a PF realizou mais 21 batidas de busca e apreensão em Brasília. Vem mais coisa por aí.
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